sábado, 21 de fevereiro de 2009

Tragetória de Dom Helder é destaque da Revista Forúm

O Dom Helder que conheci
Por Frei Beto [Quarta-Feira, 18 de Fevereiro de 2009 às 12:37hs]


















De uma carta, recém-divulgada, de Dom Helder Câmara (1909‑1999), arcebispo de Olinda e Recife, datada de 27/28 de maio de 1969 e endereçada a seus amigos e amigas, a quem chamava de “família mecejanense” (Mecejana é o distrito de Fortaleza no qual ele nasceu):
“De repente, às 13h30 me chega o boato de que o padre Antônio Henrique havia sido assassinado. Procura daqui, procura dali, ele foi identificado no necrotério de Santo Amaro, onde dera entrada como cadáver desconhecido.
“Estaria com sinais de sevícias incríveis: três balas na cabeça, uma instalada na garganta, sinais evidentes de que foi amarrado pelos braços e pelo pescoço, e arrastado... 28 anos de idade, três anos de sacerdote. Crime: trabalhar com estudantes e ser da linha do Arcebispo.
“Coube-me procurar os velhos pais e dar-lhes a notícia terrível.
“No necrotério – onde ficamos até 19h, quando o cadáver foi liberado pelos médicos legistas – vivi uma avant-première de minha própria morte. Burburinho na sala. Gente chegando de todos os cantos. A imprensa escrita, falada, teve ordem de ignorar o acontecimento, mas demos avisos a todas as paróquias, por telefone e recados pessoais.
“Levei-o para a matriz do Espinheiro. (...)
“Na primeira concelebração, às 21h, tínhamos mais de 40 sacerdotes, e a igreja, enorme, estava transbordante de jovens.
“Dei uma tríplice palavra:

Palavra de fé, aos velhos Pais, esmagados de dor;

Palavra de esperança aos jovens com quem ele trabalhava; assumi o compromisso de que eles não ficariam órfãos;

Aos fiéis que enchiam o templo – mais uma vez a imprensa escrita e falada tinha ordem para recusar até o aviso pago de falecimento. Pedi que ajudassem a espalhar que às 9h haverá nova concelebração, saindo o enterro, às 10h, para o cemitério da Várzea, que é o cemitério da família.
“Li, então, a nota, assinada pelo Governo Colegiado, nota que a imprensa não divulgará, mas que nós tentaremos espalhar por toda a cidade, pelo País e... pelo Mundo.”
Faz, pois, 40 anos que padre Henrique Pereira Neto foi assassinado no Recife.





















O coordenador

Conheci Dom Helder Câmara – cujo centenário de nascimento ele teria comemorado no último dia 2 de fevereiro – quando era bispo auxiliar do Rio de Janeiro, nos anos 60. Homem de muitos talentos e tarefas, ocupava-se também da Ação Católica, movimento que agrupava o chamado A, E, I, O e U (JAC, JEC, JIC, JOC e JUC). Eu participava da direção nacional da JEC – Juventude Estudantil Católica. Dom Helder nos coordenava, cuidava de nos matricular numa escola, com bolsa de estudos, e de nos assegurar recursos para o trabalho, como passagens aéreas que possibilitavam aos dirigentes do movimento viajar por todo o país. Graças ao prestígio dele, as portas se abriam.
Embora ele nos assegurasse o “atacado”, às vezes padecíamos no “varejo”. Morávamos em Laranjeiras (12 rapazes da JEC e da JUC – Juventude Universitária Católica), num apartamento de três quartos, verdadeira república da pindaíba! Ali, com frequência se hospedavam os líderes estudantis Betinho, de Minas, e José Serra, de São Paulo. Tínhamos recursos para viajar e escritório bem montado na rua Miguel Lemos, em Copacabana, mas nem sempre para a voracidade de nosso apetite juvenil...
Na época, o governo Kennedy, preocupado com a penetração do comunismo na América Latina, criou o programa chamado “Aliança para o Progresso”: doava leite e queijo, em caixas de papelão, para os pobres do Brasil. Parte da cota da Igreja ia para a nossa alimentação. Como as caixas ficavam meses no porto, umedeciam e o alimento se deteriorava. Tivemos sérios problemas de saúde por comer o queijo do Kennedy e beber o leite da Jaqueline...

O empreendedor
Além dos anos em que fiquei na direção da Ação Católica (1962-1964), convivi com Dom Helder no último período da vida dele. Anualmente eu participava, no Recife, da Semana Teológica promovida pelo grupo Igreja Nova. Nunca deixava de visitá-lo na igreja das Fronteiras, onde residia.
Homem pequeno e frágil, Dom Helder tinha características curiosas: quase não se alimentava. Todos diziam que ele comia feito passarinho. Também dormia pouco, tinha um horário estranho de sono: se deitava por volta de 11h, levantava às duas da madrugada, sentava numa cadeira de balanço e se entregava à oração. Era, como ele dizia, seu “momento de vigília”. Rezava até as quatro, dormia mais uma hora, hora e meia, e levantava para celebrar missa e começar seu dia.
Nos anos 60, Dom Helder encabeçava, no Rio, a Cruzada São Sebastião, projeto de desfavelização criado por ele. Malgrado a meritória intenção de propiciar aos mais pobres condições dignas de moradia, não deu certo: sem renda suficiente ou desempregados, moradores de favela eram transferidos para um apartamento que tratavam de sublocar; ou arrancavam a banheira, a pia, a torneira, para fazer dinheiro e comer.
Como Dom Helder obtinha recursos? Havia um programa de grande sucesso na TV, no qual sorteava-se uma pessoa da plateia, colocava-a numa cabine fechada, a partir da qual a escolhida não conseguia enxergar nada do que se passava fora. O auditório, repleto de prendas: carro, televisor, liquidificador, geladeira, relógio, pinça, cortador de unhas... uma porção de objetos.
Dom Helder recebeu convite do patrocinador do programa para perguntar ao seu Joaquim, operário sorteado: “O senhor troca isto por aquilo?” Joaquim não tinha ideia do que estava sendo proposto, cabia-lhe responder sim ou não. Isso umas sete ou oito vezes, até que, cessada a pergunta, o objeto da última troca era o prêmio merecido.
O auditório, na torcida pelo operário, lamentou quando seu Joaquim deixou de ganhar um carro por preferir, jogando no escuro, um abridor de latas. O apresentador lamentou ao entregar-lhe o prêmio: “O senhor teve a oportunidade de ganhar este carro ou aquela geladeira, mas insistiu no abridor de latas... Queremos agradecer, em nome de nossos patrocinadores, a presença de Dom Helder; e aqui vai um cheque para as obras da Cruzada São Sebastião”.
Dom Helder, gênio da comunicação, virou-se e propôs: “Seu Joaquim, você troca isto (o cheque) por este abridor?” E entregou o cheque ao operário!
No dia seguinte, na sede da Ação Católica, comentamos com ele: “Mas Dom Helder, o senhor abriu mão do dinheiro da Cruzada, uma contribuição importante! Como vai obter igual valor?”. Ele retrucou: “Ah... vocês não têm ideia: o que perdi no cheque ganhei em publicidade. Maiores recursos virão”.























O articulador
Homem de mil atividades, dotado de profundo senso crítico, Dom Helder tinha o dom de dialogar com qualquer pessoa, de qualquer nível. Figura muito carismática, difícil alguém considerá-lo inimigo depois de falar pessoalmente com ele, ainda que continuasse a discordar de suas ideias.
Espírito gregário, onde Dom Helder chegasse juntava gente em torno dele. Foi quem criou a CNBB, inventando as conferências episcopais, e o Celam, que é o Conselho dos Bispos da América Latina. Todos esses organismos que, de certa forma, descentralizam a Igreja romana, saíram da cabeça do bispo que, para azar dos militares golpistas, virou arcebispo exatamente em 1964. O papa o nomeou para São Luís e, dias depois, o transferiu para a arquidiocese de Olinda e Recife, na qual ele permaneceu até falecer.

O agitador

Dom Helder despontou, em 1972, como forte candidato ao Prêmio Nobel da Paz. Hoje sabemos que não ganhou o prêmio por duas razões: primeiro, pressão do governo Médici. A ditadura se veria fortemente abalada em sua imagem exterior caso ele fosse laureado. Mesmo dentro do Brasil, Dom Helder era considerado persona non grata. Censurado, nada do que o “arcebispo vermelho” falava era reproduzido ou noticiado pela mídia de nosso país.
A outra razão: ciúmes da Cúria Romana. Esta considerava uma indelicadeza, por parte da comissão norueguesa do Nobel da Paz, conceder a um bispo do Terceiro Mundo um prêmio que deveria, primeiro, ser dado ao papa...
Nos anos 70, ele era a única figura brasileira a competir, fora do país, com o prestígio do Pelé. Aonde ia, lotava auditórios. Tamanho o carisma dele que, em 1971, em Paris, convidado a falar num auditório em que cabiam 2 mil pessoas, tiveram que transferi-lo para o Palácio de Esportes, que comporta 12 mil.
Um dia, o governo militar, preocupado com a segurança do arcebispo de Olinda e Recife, temendo que algo acontecesse a ele e a culpa recaísse sobre a ditadura, enviou delegados da Polícia Federal para lhe oferecer um mínimo de proteção. Disseram-lhe: “Dom Helder, o governo teme que algum maluco ameace o senhor e a culpa recaia sobre o regime militar. Estamos aqui para lhe oferecer segurança”. Dom Helder reagiu: “Não preciso de vocês, já tenho quem cuide de minha segurança”. “Mas, Dom Helder, o senhor não pode ter um esquema privado. Todos que têm serviço de segurança precisam registrá-lo na Polícia Federal. Esta equipe precisa ser de nosso conhecimento, in
clusive devido ao porte de armas. O senhor precisa nos dizer quem são as pessoas que cuidam da sua segurança”. Dom Helder retrucou: “Podem anotar os nomes: são três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo”.















O denunciador

Dom Helder morava numa casa modesta ao lado da igreja das Fronteiras. Frequentemente, as pessoas que tocavam a campainha eram atendidas pelo próprio arcebispo. Certa noite, a polícia fez uma batida num
a favela do Recife, em busca do chefe do tráfico de drogas. Confundiu um operário com o homem procurado. Levou-o para a delegacia e passou a torturá-lo. A lógica da polícia era esta: se o cara apanha e não fala é porque é importante, treinado para guardar segredos. Os vizinhos e a família, desesperados, ficaram em volta da delegacia ouvindo os gritos do homem. Até que alguém teve a ideia de sugerir que a esposa do operário recorresse a Dom Helder.
A mulher bateu na igreja da
s Fronteiras: “Dom Helder, pelo amor de Deus, vem comigo porque lá na delegacia do bairro estão matando meu marido de pancadas”. O prelado a acompanhou. Ao chegar lá, o delegado ficou assustadíssimo: “Eminência, a que devo a honra de sua visita a esta hora da noite?” Dom Helder explicou: “Doutor, vim aqui porque há um equívoco. Os senhores prenderam meu irmão por engano”. “Seu irmão?!” “É, fulano de tal – deu o nome – é meu irmão.” “Mas, Dom Helder”, reagiu o delegado, “o senhor me desculpe, mas como podia adivinhar que é seu irmão. Os senhores são tão diferentes!”. Dom Helder se aproximou do ouvido do policial e sussurrou: “É que somos irmãos só por parte de Pai”. “Ah, entendi, entendi.” E liberou o homem.
Essas as tiradas de Dom Helder, capaz de jogadas proféticas que provocavam certa ciumeira entre os bispos. Ele tinha muitos aliados no episcopado, mas também quem invejasse seu prestígio mundial.
Durante o tempo em que estive na prisão, Dom Helder moveu intensa campanha no exterior de denúncia da ditadura brasileira. O governador de São Paulo, Abreu Sodré, tentou criminalizá-lo. Alegava ter provas de que Dom Helder era financiado por Cuba e Moscou. Alguns bispos ficavam sem saber como agir, como foi o caso do cardeal de São Paulo, Dom Agnelo Rossi, amigo do governador e de Dom Helder. Não foi capaz de tomar uma posição firme na contenda. Depois a denúncia caiu no vazio, não havia provas, apenas recortes de jornais.
Incomodava ao governo ver desmoralizada, pelo discurso de Dom Helder, a imagem que a ditadura queria projetar do Brasil no exterior, negando torturas e assassinatos. Ele sempre ressaltava que, se o governo brasileiro quisesse provar que ele mentia, então abrisse as portas do país para que comissões internacionais de direitos humanos viessem investigar, como fez a ditadura da Grécia. A ditadura grega era militar, mas abriu as portas para a investigação, o que o governo brasileiro, evidentemente, nunca fez.
Se nós, hoje, na Igreja, falamos de direitos humanos, especificamente a Igreja do Brasil, que tem uma pauta exemplar de defesa desses direitos apesar de todas as contradições, isso se deve ao trabalho de Dom Helder. Nenhum episcopado do mundo tem agenda semelhante à da CNBB na defesa dos direitos humanos. A começar pelos temas anuais da Campanha da Fraternidade: idoso, deficiente, criança, índio, vida, segurança etc. Isso é realmente um marco, algo já sedimentado. Também as Semanas Sociais, que as dioceses, todos os anos, promovem pelo Brasil afora, favorecem a articulação entre fé e política, sem ceder ao fundamentalismo.
Dom Helder sempre dizia: “Quando falo dos famintos, todos me chamam de cristão; quando falo das causas da fome, me chamam de comunista”. Isso demonstra bem o incômodo que causava. Não era um bispo que falava apenas de quem passa fome, mas também das causas da fome e da miséria, o que incomodava o sistema que se recusa a tratar as causas da miséria, porque fazem parte de sua própria lógica.

Frei Beto
Revista Forúm ed. 71

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

MPF/PB ajuíza ação contra ex-prefeito de Bananeiras

MPF/PB ajuíza ação contra ex-prefeito de Bananeiras
Augusto Bezerra Cavalcanti Neto e servidores públicos são acusados de fraudar licitações em favor de empresas ligadas à máfia das ambulâncias

O Ministério Público Federal na Paraíba (MPF/PB) propôs ação de improbidade administrativa contra Augusto Bezerra Cavalcanti Neto, ex-prefeito de Bananeiras (PB), a 140 km de João Pessoa, por fraude em convênios com o Ministério da Saúde para compra de ambulância, micro-ônibus e equipamentos de consultório médico e odontológico, que seria transformado em Unidade Móvel de Saúde. Além do ex-prefeito, mais 12 pessoas, entre servidores públicos e empresários, são réus da ação.

Segundo a denúncia do MPF/PB, os crimes aconteceram em 2004 na execução dos Convênios nº 573/2004 e nº 31/2004 e importaram no desvio de 230 mil reais em procedimentos licitatórios fraudulentos do município. As fraudes consistiam no superfaturamento de ambulâncias e material hospitalar, adquiridos pela prefeitura, através de licitações sumuladas que beneficiavam empresas do Grupo Planam.

O procurador da República Roberto Moreira de Almeida, autor da ação, cita auditoria realizada em Bananeiras, pela Controladoria Geral da União (CGU) e o Ministério da Saúde, que detecta a ocorrência das licitações simuladas. Segundo o relatório, as licitações foram feitas sem publicidade, de maneira direcionada, através da modalidade de carta-convite, tendo por objetivo favorecer exclusivamente empresas integrantes do Grupo Planam. O procurador também faz referência ao relatório do Congresso Nacional, referente aos trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Ambulâncias, em que um dos líderes da quadrilha de fraudadores, Luiz Antônio Vedoin, informa que repassou comissão de sete mil reais ao ex-prefeito Augusto Bezerra Cavalcante Neto pela participação na licitação viciada.

Conforme consta na ação, os auditores da CGU não conseguiram localizar a Unidade Móvel de Saúde e detectaram que a prefeitura de Bananeiras realizou transferências irregulares com os recursos destinados à compra do veículo. Quanto ao micro-ônibus, que seria transformado em consultório médico e odontológico, a CGU verificou a falta de pesquisa de preço de mercado, a simulação de licitação, parcelamento do objeto para fugir da tomada de preços, transferência indevida dos recursos para outras contas bancárias municipais, aprovação indevida da prestação de contas final dos recursos do convênio e um prejuízo ao erário no valor de R$ 10.534,87.

Organização criminosa - A ação relata que os integrantes da quadrilha monitoravam permanentemente a formalização e aprovação do orçamento geral da União, especialmente as emendas apresentadas individualmente por parlamentares. Na etapa seguinte, os integrantes da organização criminosa procuravam controlar a execução orçamentária das emendas, interferindo na liquidação da despesa e na prestação de contas dos convênios da União, municípios e organizações sociais de interesse público, bem como cuidavam da elaboração de projetos sem os quais não era possível a descentralização dos recursos públicos pelo Ministério da Saúde.

A isso somava-se o direcionamento do processo licitatório, que era manipulado para possibilitar o superfaturamento, a partir do qual os recursos seriam repartidos entre os participantes do esquema. Conforme consta na ação, o crédito orçamentário para cobrir os convênios da prefeitura de Bananeiras partiu das emendas parlamentares individuais nº 22770001 e nº 71160004, de autoria do ex-senador Ney Suassuna e do ex-deputado Benjamim Maranhão, respectivamente.

O MPF pede a quebra do sigilo fiscal e bancário dos réus para identificar a origem dos bens adquiridos por eles nos últimos cinco anos, além do sequestro e indisponibilidade desses bens para ressarcimento das verbas desviadas. O MPF/PB requer ainda a suspensão dos direitos políticos dos responsáveis, perda da função pública, multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público, ou receber incentivos fiscais ou creditícios.

Além de Augusto Bezerra Cavalcanti Neto, a ação foi proposta contra Geraldo de Oliveira, Humberto Maranhão de Sena, Isaac Escarião Cadete da Nóbrega, Maria José Costa da Silva, Darci José Vedoin, Luiz Antônio Trevisan Vedoin, Marco André Esteves dos Anjos, Paulo José Sampaio Bastos, Ronildo Pereira Medeiros, Adilson da Silva Guimarães, Mário Lira e Manoel Lopes de Macedo Neto.

Ação Civil Pública nº 2009.82.00.000090-6 ( 1ª Vara Federal)

Fonte: noticias.pgr.mpf.gov.br

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Uma Visão religiosa que pode mudar o mundo, Teológia da Libertação

Boff e o Fórum Mundial de Teologia e Libertação
Por Leonardo Boff

Desde os seus primórdios no final dos anos 60 do século passado, este tipo de teologia nasceu no esforço de articular o discurso da fé com o discurso da sociedade na perspectiva dos oprimidos. Sua marca registrada foi e continua sendo “opção pelos pobres contra a pobreza”. A perspectiva era e é global, de sorte que já nos anos 70 se organizaram os primeiros Fórums Mundiais da Teologia da Libertação, em Chicago, no México e no Brasil e continuaram até que a cegueira de setores poderosos do Vaticano os tivessem proibido. Como são por natureza ecumênicos, tais fórums continuaram a acontecer regionalmente.


Com o surgimento dos Fórums Sociais Mundiais a partir de 2001 encontrou-se o espaço público para a continuação destes encontros globais, primeiro em Porto Alegre em 2005, o segundo em Nairobi no Quênia em 2007 e agora em 2009 em Belém.

Perfilou-se melhor o estilo da reflexão. Ao invés de se falar simplesmente de teologia da libertação e assim ressuscitar as discussões do passado, preferiu-se falar em teologia e libertação. O sentido é confrontar a fé refletida e critica (teologia) com os temas da opressão que possuem os mais diversificados rostos desde as crianças consumidas como carvão na máquina produtivista até os massacres como os de Gaza. O discurso não é intraeclesiástico e em favor ou contra as Igrejas mas público, voltado para a sociedade mundial. A questão central nao é discutir o futuro do cristianismo, mas que contribuição este pode dar para os verdadeiros problemas humanos que são a perpetuação da paixão dos pobres, o aquecimento global e suas eventuais conseqüências perversas.

O cristianianismo não pode ser um superego castrador de temas importantes da agenda mundial, mas deve ser uma fonte de inspiração e de ousadia para questionar o paradigma cvilizatório dominante que faz de todos, ricos e pobres, oprimidos, afogados no consumismo de bens materiais, sem sentido de solidariedade e de cuidado para com o patrimônio comum que é o planeta Terra. Mas principalmente pode mostrar-se fecundo no compromisso, junto com os movimentos sociais – os verdadeiros novos atores - no combate ao sistema do capital produtor de grandes injustiças, na luta pela terra, negada às grandes maiorias e na busca de alternativas de produção e de vida. Não é sem razão que é unicamente esse tipo de cristianismo que possui mártires como a Irmã Doroty, o Padre Josimo e tantos outros da América Latina. Das burocracias eclesiásticas nunca saem místicos, santos e mártires mas apenas medíocres reprodutores do stablisment religioso.

Em todos estes Fórums de Teologia e Libertação compareceram mais de mil pessoas vindas de todos os Continentes, também da Europa e dos USA, o que mostra a vitalidade deste tipo de pensamento. As autoridades doutrinárias do Vaticano estão iludidas quando imaginam que com sua disciplina liquidaram a Teologia da Libertação. Ela nasce do grito da Terra e dos pobres. Enquanto estes continuarem a gritar, há todas as razões de se atuar de forma libertadora e elaborar a partir daí uma teologia. De certa forma, suas intuições se tornaram patrimônio comum do cristianismo contemporâneo, salvando-o do cinismo.

O tema deste ano em Belém foi “Água, Terra e Ecologia para um outro mundo possível”. Partiiu-se da conjunção das várias crises, todas elas ligadas à falta de sustentabilidade do sistema-Terra. O tema da ecologia se impunha. Não como técnica de gerenciamento de recursos escassos mas como novo paradigma de relação para com a Terra, não como mero meio de produção mas como um ser vivo, gerador de toda a vida. Como disse um discípulo de E.Morin, Patrick Viveret, biólogo e economista, em sua palestra: importa fazer “um bom uso do fim de um mundo”. Agora se abre espaço para um outro mundo não só possível mas necessário. O cristianismo é chamado a trazer a sua contribuição a partir de seu capital de respeito e de cuidado.

Leonardo Boff

Fonte: www.revistaforum.com.br/sitefinal/NoticiasIntegra.asp?id_artigo=6189

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Presidente Lula tem nova aprovação recorde de 84%

Os índices de aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuam crescendo, como mostra a 95ª Pesquisa CNT/Sensus divulgada hoje em Brasília.

A avaliação positiva do governo Lula registrou 72,5%, e a negativa 5,0%. Em dezembro de 2008, a avaliação positiva era 71,1% e a negativa, 6,4%.

A aprovação do desempenho pessoal de Lula atingiu 84,0% e a desaprovação em 12,2%. Em dezembro de 2008, a aprovação era de 80,3% e a desaprovação, 15,2%.

Mesmo com o agravamento da crise econômica mundial, a aprovação de Lula continua crescendo, o que, segundo o presidente da CNT, Clésio Andrade, mostra que o presidente da República “continua sendo o âncora da esperança e as pessoas ainda acreditam que a crise é passageira”.

“A população tem uma crença muito grande no presidente Lula, no seu discurso e até mesmo nas medidas que têm sido tomadas para conter a crise”, diz Clésio Andrade.

De qualquer forma, o presidente da CNT considera que se os prejuízos em conseqüência da crise continuarem se agravando, esse cenário de aprovação tende a mudar. “Se a economia piora efetivamente para as pessoas e elas começam a perder a esperança, não há governante nenhum que consiga ficar com a popularidade alta.”

Fonte: CNT
Link: www.cnt.org.br