''A crise financeira, que nasceu da desregulamentação das economias mais ricas, não é um pretexto para estimular o descumprimento das obrigações de cada Estado com a promoção e a proteção dos direitos humanos'', explicou o presidente, que deve se reunir em Genebra com o presidente francês Nicolas Sarkozy. ''Também não deve levar ao descumprimento dos compromissos com os mais necessitados'', completou, antes de lembrar que o Congresso do Brasil acaba de aprovar uma lei que regulariza a situação de milhares de emigrantes.
Lula pediu que os trabalhadores tirem vantagem da crise financeira mundial para ajudar a formar uma nova ordem econômica. Segundo ele, há uma oportunidade excepcional para que os trabalhadores, sindicalistas e líderes comerciais pensem e apresentem propostas que mudem as relações entre os Estados e a sociedade civil. ''Temos que aproveitar o momento. Não é esquecer a crise, mas, a partir dela, descobrir o que podemos fazer de novo. A presença de vocês dá força para produzir temas'', disse Lula.
Convenção da ONU
Para o presidente, as variações do ano passado nos preços do petróleo e das commodities ocorreram devido à especulação. Ele voltou a criticar setores do mercado financeiro, que especulam sem produzir. ''Alguns tentam transferir o ônus da crise para os mais fracos e é aí que aparece a face oculta e cruel da globalização. Os trabalhadores imigrantes se tornam os bodes expiatórios e a comunidade internacional não pode permitir que isso ocorra'', afirmou.
O G-20, grupo de países ricos e ''emergentes'', do qual o Brasil faz parte, pediu à OIT que desenhe políticas para levar o mundo a uma recuperação da crise. A OIT diz que é importante evitar um atraso na criação de postos de trabalho enquanto a economia se recupera, pois o emprego e a renda vão sustentar o consumo que servirá como alicerce para o crescimento sustentável. Lula afirmou que, de 2003 a 2008, o Brasil criou 10 milhões de empregos formais e aumentou o salário mínimo em 65%. O presidente destacou que o país conseguiu combinar a expansão das exportações com o aumento do consumo interno.
O Brasil demonstrou solidariedade aos outros países, legalizando imigrantes ilegais, afirmou Lula. Lembrando que trabalhou em uma fábrica enquanto era adolescente, Lula ressaltou que o Brasil foi o primeiro país das Américas a ratificar uma convenção da ONU contra o trabalho infantil. O presidente também disse que é inaceitável ver mais de 1 bilhão de pessoas no mundo passando por dificuldades para comer, e afirmou que a crise expõe a falsidade das doutrinas neoliberais.
Queda da Selic
No programa semanal de rádio Café com o Presidente, Lula disse que medidas tomadas por setores como a indústria automobilística diante da crise contribuíram para a queda do Produto Interno Bruto (PIB). ''Alguns setores da economia se precipitaram em praticamente acabar com os seus estoques. Eu poderia pegar, como exemplo, a indústria automobilística, que no mês de dezembro, praticamente não produziu carros, deu férias coletivas, e isso tem um significado muito importante na queda do PIB brasileiro'', disse.
Na última semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma queda de 0,8% no PIB do primeiro trimestre deste ano. Apesar de se dizer ''um pouco triste'' com o resultado, o presidente se mostrou otimista. ''O que é importante é que o pior já passou e a economia brasileira está dando sinais enormes de recuperação'', comentou. ''Nós entramos por último nessa crise e vamos sair primeiro que todos os países'', completou Lula, acrescentando que os investimentos e o consumo da população ''não permitiram que o Brasil tivesse um efeito mais danoso na queda do seu PIB''.
Lula também comemorou a queda da taxa Selic, que, na semana passada, teve redução de um ponto percentual, passando de 10,25% para 9,25% ao ano. ''Desde que foi criada, é a primeira vez que ela está abaixo de dois dígitos. É a primeira vez desde 1986, o que é uma coisa extremamente significativa'', ressaltou. Mas voltou a comentar sobre a necessidade da redução do spread bancário (a diferença entre os juros que o banco paga aos investidores e o que cobra nos empréstimos). ''O spread ainda está muito alto, o spread ainda está seletivo, e nós vamos manter todo o esforço para controlar a inflação''.
Com agências